Além de misturar famílias de diferentes rendas no mesmo condomínio, outras características do projeto inspirado na experiência nova-iorquina são a parceria público privada e o baixo custo do empreendimento para o poder público.

A Prefeitura de São Paulo cede o terreno e, em troca, fica com 20% das unidades para alugar. O restante dos apartamentos será de propriedade da incorporadora, que venderá os apartamentos segundo critérios estabelecidos pela prefeitura. Para compra, um apartamento deve custar cerca de R$ 220 mil, segundo a Secretaria de Habitação. Ainda não foi definida qual será a metragem.

Para a arquiteta e urbanista Margareth Uemura, diretora do Instituto Polis e suplente do Conselho de Habitação, o aspecto negativo do condomínio da Barra Funda é alugar os apartamentos para quem tem renda entre quatro e cinco salários mínimos. “O problema habitacional da cidade envolve famílias que têm renda entre zero e três salários mínimos. Há uma demanda reprimida muito grande nesse grupo de baixa renda.”

O secretário de Habitação, Ricardo Pereira Leite, rebate: “Temos 830 habitações já alugadas a famílias que ganham até três mínimos e percebemos que aqueles que ganham entre quatro e cinco salários também têm muita dificuldade de comprar um apartamento. Eles também merecem essa ajuda”.

Janaína Ruedamora em um dos apartamentos grandes do edifício Copan, onde funciona seu restaurante, o Bar da Dona Onça

O projeto contempla ainda um fundo imobiliário que será usado para a manutenção em casos de inadimplência. Segundo Pereira Leite, o critério de desempate para a licitação será o valor que a incorporadora oferecerá para o fundo.

“Visitei projetos assim nos Estados Unidos. É uma ideia excelente. Abre-se a possibilidade de a iniciativa privada produzir habitações de interesse social a partir de um novo modelo”, afirma Cláudio Bernardes, presidente do Secovi (sindicato de habitação).

Para ele, o gargalo do projeto é a convivência das famílias. “Pode ser que surjam problemas culturais no condomínio, de as famílias não terem hábitos compatíveis.”

MISTURA NA PRÁTICA

O conceito de mistura de rendas existe de maneira informal em São Paulo desde a década de 1950, quando foi construído o Copan, no centro da capital. Com 1.160 apartamentos de tamanhos entre 26 m² e 219 m², o mega edifício projetado por Oscar Niemeyer reúne todo tipo de morador. “Costumo brincar que na nossa garagem temos desde fusquinha até Mercedes blindada”, diz o síndico Affonso Celso Prazeres.

Janaína Rueda, 37, que mora e trabalha no Copan -ela é proprietária do bar Dona Onça- diz que misturar rendas é interessante “porque as pessoas que nunca viveram em condomínios aprendem a se respeitar”.

Para a psicóloga aposentada Astrid Maria Kraml Theil, 73, que vive no Copan há 40 anos, a boa administração ajuda. “Nos reunimos sempre que necessário e fazemos uma constante manutenção.” Sobre a mistura, ela diz: “O Copan é um retrato do mundo, com pessoas humildes e outras ‘bem de vida'”.

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O conteúdo original desse post foi publicado no site Folha.com.

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